Estou cansado de fugir.
Fugir não é fácil. Ainda mais quando se faz por tanto tempo. Por tantas coisas. Não é de hoje que noto isso. Agora, me cansei. E parei.
Fugia por medo. De me envolver. De me entender. De aceitar as verdades sobre mim que não queria admitir. Não queria que me encontrassem. Não em bares ou em festas. Mas em essência. Tinha o receio de me estender em um encontro. Em um olhar. Em um amor. Assim. escapava. Pelos primeiros vãos.
Fugia, assim. Com facilidade. Mas não notava que não fugia apenas de mulheres. De familiares. De amigos. Fugia também de mim. Não arriscava me conhecer. Escondia partes que não gostaria de encarar em cavernas. Onde não seriam descobertas. Onde sempre poderiam escapar despercebidas. Nestes escuros, eu me sentia seguro. Assim, mostraria apenas os detalhes que cuidadosamente escolhesse.
Mas esta loucura cansa. E tem um preço. Enquanto eu me escondia, deixava de me notar. Não distorcia as minhas verdades apenas para os demais. Mas também a mim mesmo. Assim, não notava o que estava perdendo. Não notava que estava me perdendo. Aos poucos, sacrifiquei amores. Sentimentos. Corações. E partes de mim que ficaram ali esquecidas.
Hoje, não fujo mais. Não altero o meu percurso ou rota para procurar cavernas ou mares escuros. Navego de encontro. Deixo que me reconheçam em totalidade. Aprendi a lição. Um conselho aos que seguem como eu seguia? Mudem enquanto há tempo. Porque eu garanto. Quem muito se empenha em fugir, deixa de ser encontrado.